14 de novembro de 2012

Eu renasci...

Relato do parto de Hadassa

“Quero compartilhar a experiência mais marcante de minha vida, aquela que me fez nascer denovo”


Uma breve introdução
Em Janeiro 2011 sentia-me grávida, na verdade sabia! Não precisava de atraso ou de exame eu simplesmente sentia que meu corpo estava diferente e falei para Gleyton, ele não acreditou muito, nem mesmo meus familiares – precisam de dados que comprovassem, mas desde o dia que fizemos amor bem no início do ano eu senti que havia fecundado e hospedava um novo ser.
Desde então adotei uma nova postura. Passei a pesquisar sobre o tema que até em então não sabia de nada e me deparei um universo, descobria a cada semana o quão maravilhoso e mágico é ser mulher e gestar! Mudei meus hábitos passei a me alimentar melhor.. Toda informação era muito bem vinda e aprendi a desconstruir para reconstruir conceitos e paradigmas. Coisas que acreditava serem corretas e verdades absolutas foram completamente minadas e em contrapartida conheci pessoas e aprendi coisas novas e bem naturais que me fizeram rever tudo e me redescobrir e refazer para está preparada para oferecer o melhor para minha filha ainda no ventre.
Quando estava com 6 meses de gestação ainda não tinha noção de local e como seria meu parto, meu médico de um plano de saúde disse na 1° consulta que não acompanhava partos, mas isso não era problema tendo em vista que meu plano não iria cobrir o parto tendo vista ter contratado ele com estava com 4 meses de gestação. As consultas eram mensais com uma espera de quase 2h, um médico que olhava exames, media pressão, pesava e sentia o bebe na barriga,porém não me falava nada e no final da consulta perguntava: - Alguma dúvida?! Ora nenhum doutor, o doutor Google já me responde diariamente! (não dizia isso, somente o não! mas bem que pensava) O assunto do parto estava deixando todos em casa muito preocupados, inclusive eu. Meu plano era esperar sentir as contrações e ir para a emergência do IMIP e fosse o que Deus quisesse! Lia reportagens que em 2011 tinha poucas vagas nas maternidades, de uma mãe que perdeu seu bebê por falta de atendimento etc..etc.. Isso me deixava cada vez mais aperriada.
Tinha em mente parir normal, mas até aí nunca tinha ouvido falar de humanização, grupos,intervenções...na minha cabecinha parir era sofrer, mas ainda era a melhor forma de pôr crianças no mundo. Tinha fé em Deus que tudo daria certo, pois ele projetou meu corpo para isso e confiava no seu zelo.
O encontro
Então numa manhã de Julho fui trabalhar e lá sentada na parte reservada do ônibus senta-se ao meu lado uma senhora magra e franzina, ela muito simpática puxa conversa sobre minha gestação e logo estamos conversando, ela fala que sua irmã é parteira e se eu não tinha visto ela na TV, ora eu disse – E parteira ainda existe?; Ela muito simpática confirmou que sim e disse que a irmã dela era parteira muito conhecida tinha pegado mais de 5mil bebês, se chamava Prazeres. Troquei telefone com ela e meu coração se encheu de uma felicidade inexplicável. Então ela percebeu que pegou o ônibus errado, deveria ter pego outro para ir para seu destino. Mas hoje sei que Dona Berenice entrou no ônibus certo, na hora certa. Este encontro foi marcado!
Cheguei no trabalho e  fui logo pesquisar sobre a parteira na internet, me deparei com muitos artigos e logo achei ela Dona Prazeres, muito parecida com sua irmã. Fiquei encantada!
Conversei com Gleyton pelo MSN e contei a novidade, mandei artigos, mas ele escreveu: - Vc ta doida??! Ter filho em casa que invenção... tira isso da cabeça!
Mas não dava mais pra tirar..sempre assistir vídeos de parto normal pelo youtube, porém sempre tive predileção por assistir aos vídeos de parto domiciliar, assisti apenas um hospitalar e fiquei aterrorizada com a episiotomia e a forma que era dirigido parto e o TP. No PD a mulher estava sempre feliz, realizada, ela era poderosa e estava à vontade! Quando soube que existia parteira pensei e senti: - Deus aceitou o desejo do meu coração.
Em busca de aliados, conversei com minha sogra, ela também era contra! Tentei convencer..pesquisei sobre os riscos, sobre a competência de Prazeres e ninguém me ouvia, parecia que eu era uma sonhadora. Foi aí que falei para meu sogro, ela é do interior e nasceu com parteira, ele me apoiou totalmente e ainda disse: - Para parir com um médico que nem sabe quem é, pode ser até um doido é melhor que seja com uma parteira boa! Minha mãe pariu 13 em casa e com parteira; Ele era um aliado!
Fui ao IMIP com minha sogra, mas após enfrentar 2 filas e muita espera disseram que só atendiam alto risco (Pré natal) e que eu deveria marcar uma consulta com vaga para daqui a 2 meses (eu já teria parido). Se eu chegasse lá em TP me atenderiam,mas a prioridade é de quem faz Pré-natal lá..blá..blá..blá..nada animador!
Assistir ao documentário com Prazeres – Trabalho de parto pelo youtube, sacramentando que eu a procuraria e estava nas mãos de Deus aquele sonho ou loucura! Liguei para ela e fui atendida por uma voz doce e cansada, de uma atenção e carinho que me deixou mais enamorada, marcamos um encontro para o domingo.
Fui com meu marido, ele super resistente e carrancudo foi! Meu sogro deu uma dura nele para que me acompanhasse! Chegamos em sua casa e foi muito bem recebidos, ela o ensinou a ouvir o bebe,sentir a cabeça e a coluna, convervou sobre tudo conosco, me passou a lista de materiais para o parto e nos desejou felicidade! – “Querer é poder, você é determinada!” – Meu marido ficou apaixonado por ela desse dia em diante..kkk! Ela me orientou procurar a Danieli Siqueira para ser minha doula e freqüentar as rodas de casais grávidos do Gestar. E assim foi – encontrei um novo universo, meus horizontes foram ampliados e a estrada estava só começando... 
O dia tão esperado chegou!  - 19/09/2011
Na madrugada de Domingo (18/09) as 4h da manhã despertei com uma sensação estranha na barriga,que não era dor, o bebe estava mexendo. Fui ao banheiro e vi que minha calcinha estava com uma secreção marrom, fui correndo para consultar na internet e constatei o que sentia: meu tampão mucoso estava saindo e este era o primeiro sinal que o trabalho de parto estava apenas começando. Fiquei muito contente, mas resolvi não acordar Gleyton, eu diria assim que acordássemos. Li que o tampão poderia sair com 1 semana antes do parto, mas no meu coração eu sentia que a hora chegou.
Pela manhã fui à casa de minha sogra e nos dois últimos dias eu pedia para ela medir minha barriga que estava baixando e neste dia ela estava com 4 dedos, então contei sobre o tampão e que naquela manhã comecei a sentir cólicas bem fraquinhas e irregulares. Ela ficou muito feliz e começou a planejar o cardápio do dia e os bolos que faria.
Liguei para Dona Prazeres, minha parteira, ela disse que eu estava em pródomos e recomendou que me alimentasse bem até o horário do almoço e procurasse dormir, que a mantivesse informada sobre as cólicas e a intensidade, pois ela estava preparada só aguardando ser chamada. Falar com ela é sempre um conforto, pela segurança e tranqüilidade que ela passa.
Passei o dia organizando tudo para o parto, conversando com Hadassa, para que ela ajudasse mamãe e acendendo brasas de carvão para queimar alfazema (os partos tradicionais no interior acendem incenso de alfazema o avisando aos vizinhos do nascimento do bebê), o aroma é ótimo e deixava a casa no clima de nascimento.
Trabalho de Parto
Por volta das 23 horas do domingo eu já estava com cólicas mais fortes, porém suportáveis e ainda irregulares, Hadassa mexia bastante. Estava aguardando a chegada de Dona Prazeres  e Danieli. Eu estava muito alegre com a chegada de Hadassa e estava muito sorridente; Deixei tudo em ordem, a casa, o material para o parto, o chá de canela, o incenso de alfazema. Quando elas chegaram pensei: “Está como planejamos, agora é minha filha nascer! Vai dar tudo certo”. Em momento algum duvidei disso: “Vai dar tudo certo”. Dona Prazeres me elogiou: “Hum toda sorridente e bem arrumadinha” como se já soubesse que mais tarde eu estaria fazendo caretas e completamente nua.
Danieli fez a escuta dos batimentos de Hadassa, estavam 140 por minuto. Perguntei a ela sobre a intuição espiritual de Prazeres, pois a minha informava que estava tudo bem, ela confirmou que a dela estava em perfeita sintonia com a minha.
Fui dormir com Gleyton, mas não consegui;Logo começaram as contrações mais fortes e regulares. Dona Prazeres disse que eu a chamasse assim que eu começasse a fazer caretas; Essas caretas vieram junto com as dores mais fortes e a chamei e logo vieram com todo carinho me atender. Fiquei sentada na bola suíça, dando pulos assim que a contração vinha; Caiu a ficha que daquele momento em diante entrei no mundo do parto, aquela madrugada seria marcante e minha filha estava perto de nascer.
Fizeram o 1° exame de toque e informaram que o colo estava bem fino e por isso era difícil constatar quantos centímetros de dilatação estava.
Tomei banho quente da cintura para baixo, o que é realmente muito relaxante, para se ter noção no banho minha barriga contraiu, mas eu não senti a dor;
Durante a noite o trabalho de parto foi assim: Contrações que foram tornando-se cada vez mais regulares e intensas, nestes momentos contei com o amor e força de meu marido que fazia massagens na região lombar e sacro, fez exercícios de agachamento comigo, me segurava quando eu sentia que não agüentava mais e também quando quase caí por duas vezes por causa do sono; Também contei com o carinho de Dani que me abraçava nos momentos de dores mais fortes, o que me energizava e ainda dizia palavras tão doces que acalmavam e tornavam suportáveis qualquer dor, pois me tornava consciente que a vida estava fluindo e minha filha estava cada vez mais pertinho de nascer; Dona Prazeres com seu olhar experiente e seguro me passava toda segurança que estava tudo bem, as dores eram necessárias e naturais, fazem parte do processo da vida; Gleyton me contou que o que o tornava mais calmo diante das minha dores era olhar para ela que vez por outra dava umas piscadelas de lado e dizia a ele : “está tudo bem!”
Ouvimos música toda noite, até arrisquei uns passos de reggae junto a Dona Prazeres. Eram sons conhecidos de Hadassa durante a gestação.
As 5h da manhã minha bolsa estoura, estava em posição da gatinha, ou de quatro, o que não foi muito confortável. Líquido de cor clara e limpo, o que significa? “Está tudo bem!”
Desta hora em diante as dores se tornaram mais intensas e quando olhava para o relógio o tempo passava a cada meia hora a ansiedade de parir era muito grande acompanhado das dores. Eu estava exausta e precisava dormir; Nos intervalos das contrações que estavam a cada 15 minutos eu me deitei no colchonete que estava na sala e dormi; Sabe aqueles sonos bem curtos que parece que você dormiu por horas?! Mas fui despertada por contração muito forte; “Vale salientar que deitada à contração parece multiplicada por 10X, admiro a força das mulheres que conseguem parir deitadas, pois para mim foi a pior posição que estive durante o trabalho de parto”; Dani me pedia para levantar as pernas o que aliviou um pouco e logo depois que ela passou era como se eu não tivesse sentido nada e caí novamente no meu sono revigorante, até ser despertada por outra contração.
Sentei na cadeira de parto e senti o aconchego do abraço do meu Gleyton, que sussurrava coisas tão bonitas e palavras de força ao meu ouvido sobre nossa filhinha e nosso amor.
Eram umas 7h  Dona Prazeres sugeriu mais um toque, eu não me animei com a  idéia, estava muito sensível e até as perguntas que ela fazia eu não entendia mais..Dani disse: “Ela gora entrou definitivamente no mundo do parto” - Partolândia; Eu me lembrei daquele banho quente tão relaxante e elas consentiram. Após o banho eu cheguei junto delas e pedi um analgésico, elas riram e Dona Prazeres disse: “Não tem”!
Foi então que após o toque Dani informou que sentia a testa de minha filhinha e que faltava tão pouco para Hadassa nascer, ela propôs que eu fizesse o exercício de agachamento com Gleyton sempre que sentisse a contração, eu achei que não fosse conseguir, mas uma força inesperada se apoderou de mim e comecei a caminhar pela casa e quando senti a contração agachava ou sentava na bola suíça para dar pulos; Não parecia em nada com a Nicole de 30 minutos atrás que pedira analgésico! Depois de cada contração eu pensava assim: o meu bebê está mais perto, ele está mais perto”. Foi então que comecei a sentir a famosa e tão esperada vontade de fazer força, eu estava de pé e fui para a cadeira de parto com Gleyton me segurando por trás. Era um mix de sentimentos e a vontade de fazer força a cada contração já minimizava as dores. Dona Prazeres e Daniele se prepararam para o expulsivo com tanta tranqüilidade e alegria me incentivava a cada contração a fazer mais força, pois “- Hadassa linda já está vindo”; As dores já estavam para trás agora era fazer força, os gemidos das contrações deram lugar aos uivos fortes que pareciam auxiliar na abertura do canal do parto e eu só pensava em ter minha filha em meus braços. A cada força eu sentia ela descer . Dona Prazeres e Danieli  estavam  já com sua cabeça nas mãos e Gleyton fazia massagem na minha barriga para auxiliar a saída, quando vi o corpinho sair e o chorinho  vigoroso dela ecoar na sala, uma sensação de alívio e uma emoção muito forte se apoderaram de mim, ter minha filha tão desejada em meus braços, conhecer seu rostinho lindo, sentir seu cheirinho e seu corpinho quente, pôr sua boca no seio e sentir seu reflexo de sugar. Agradeci ao Criador por nos ter proporcionado uma felicidade difícil de relatar em palavras. Meu amado esposo estava muito emocionado também, ele me disse ainda na gestação que só se sentiria aliviado quando nos visse juntas e estávamos bem ali envoltas nos seus braços.

Parir é uma experiência única, mágica e sublime.


Um comentário:

Rafaella ★ disse...

Lindo relato, vc é uma pessoa mt iluminada!